"Curanto": um canto pela cura – Apoie a gravação do primeiro EP autoral de Rosane Queiroz

“Curanto” é uma palavra que une cura e canto, porque cantar foi essencial no meu processo de cura. Em 2022, enfrentei e venci um câncer de mama. Foram seis sessões de quimioterapia, quinze de radioterapia, cinco cirurgias e uma mama a menos. Foi um processo que mudou tudo em mim –por dentro e por fora.

Muitos me diziam para escrever, compartilhar o que estava vivendo, mas na época, minha vontade foi ficar quieta no meu canto. Não escondi nada, mas também não divulguei. Estava focada em uma única coisa: sobreviver.

Minha vida, afinal, se tornou uma gincana: médicos, exames, quimio 1, quimio 2, quimio 3… cirurgia, plaquetas que subiam e desciam, rádio 1, rádio 2, tomografia de cabeça, tomografia de tórax. Fiquei careca, inventei mil looks com turbantes, usei uma franjinha fake. Fiz o que podia para me sentir bonita, mesmo em meio ao caos.

É comum ouvir das pessoas que passei pelo câncer de forma leve. É verdade que sou uma “Poliana” crônica, sempre tentando enxergar o lado positivo, mas hoje vejo que estava tão dentro da situação que sequer tinha a dimensão do que estava vivendo.

Não foi leve. Mas tive apoios importantes: pelo lado prático, um plano de saúde que me garantiu o tratamento no momento adequado, uma equipe médica dedicada e enfermeiros-anjos. No emocional, um parceiro amoroso ao meu lado, uma família que me sustentou e amigas e amigos que não soltaram minha mão. No espiritual, muita fé e esperança de que eu ia me curar. 

Em nenhum momento parei de cantar. E, mesmo sem muita vontade de escrever, comprei um caderno e fui anotando frases, reflexões e gravando melodias no celular, pensando em canções. 

"Curanto", a canção que dá nome ao projeto, resume a minha fé no divino em todas as suas formas, porque eu acreditei muito que ia me curar. Cada um tem sua crença e não importa qual, o importante é ter fé. O canto tem poder de cura e está presente em todas as culturas e religiões. Do canto da mãe que embala seu bebê, aos cantos indígenas, gregorianos, celtas, aos hinos e rezos, todos eles acalmam e trazem esperança. 

Outra canção importante é "Túnel", pois o refrão me veio dentro do túnel da tomografia. Ela representa o momento em que encarei a escuridão e percebi que, mesmo ali, havia algo que me conduzia para fora.

“É preciso sair da ilha para ver a ilha”. Essa frase de Saramago ressoou no momento em que pude olhar para trás, com distanciamento. Eu saí da minha ilha. E agora quero contar o que me ajudou a atravessar esse túnel.

Estou em remissão há três anos. Por alguma razão, Deus me poupou e me deu um cheque em branco de vida e agradeço por isso todos os dias.Tenho 55 anos e ainda muitos sonhos.

Seis músicas + videoclipe

“Curanto” é um deles Vai ser um EP (sigla para "Extended Play", formato musiucal que se situa entre um single e um álbum). Serão seis músicas autorais (uma delas "Só quero tempo", gravei ainda durante o tratamento e está nas plataformas) que reverberam essa jornada de cura e um videoclipe da música que dá título ao álbum. Cada música é uma parte do caminho. 

Recebo muitos telefonemas e mensagens de mulheres ou pessoas que descobriram um câncer e estão perdidas. Querem saber da minha experiência porque me vêem como um exemplo positivo, e fico feliz em ajudar. 

Com minhas músicas, espero inspirar e motivar mais pessoas. Meu desejo é que “Curanto” alcance outras mulheres que, como eu, atravessaram o túnel do câncer de mama. Que elas saibam que não estão sozinhas, que a escuridão não é o fim, e que existe luz, existe canto, existe cura.