Ajude um Ribeirinho a se formar em Direito.

Olá me chamo Erlande Eris, sou um jovem ribeirinho amazônico que sai do Norte e Nordeste desse país gigante da desigualdade social em busca de alcançar um sonho, muitas das vezes, impossível diante da minha realidade social. Sou filho de maranhenses lavradores em situação de extrema pobreza, meu pai é analfabeto, a maioria da minha família não completou o ensino médio, nasci em uma comunidade camponesa no interior do município de Cachoeira do Píriá no estado do Pará, na qual até hoje não há energia elétrica. Aos 6 anos de idade me mudo para a região urbana de Cachoeira do Piriá em busca do acesso à Educação, tive dificuldades com o processo de alfabetização devido essa lacuna de não acesso à Escola em minha comunidade. Em 2008 se não me engano, entrei no Instituto Ayrton Senna buscando melhorias no âmbito do meu desenvolvimento educacional, e finalmente aos 8 anos aprendo a ler e escrever com a ajuda de um professor pedagogo excelente o querido Prof. Marcos. Com a leitura eu desenvolvo um hábito intenso por leituras que foi desenvolvido pelo Instituto Ayrton Senna, no qual eu tenho muito apreço, carinho e agradeço profundamente pelo trabalho inestimável que essa instituição fomenta no Brasil. A leitura me abriu as portas para alcançar os meus mais distantes e impossíveis sonhos. Durante o meu ensino fundamental e médio foi uma dedicação completa e atenciosa com os estudos visando no futuro ingressar em uma boa universidade, o resultado disso se ver no desempenho do Exame Nacional do Ensino Médio. Com a ajuda de professores (as) que sempre  acreditaram no meu potencial obtive a esperança de vencer as barreiras impostas a minha realidade social. Em 2019, 1 ano após concluir o Ensino Médio na escola pública Adriano Gonçalves em Cachoeira do Piriá, fruto de muitas lutas, presto Enem pela terceira vez consecutiva e no processo seletivo do Sisu 2020 consigo a tão sonhada vaga na Universidade Federal de Goiás, Câmpus Goiás, no curso de Bacharelado em Serviço Social. Foi um momento de muita felicidade na minha vida, era uma chance de mudar de vida, digo que a única chance diante da minha realidade. Sai de casa apenas com o dinheiro da minha passagem em um ônibus clandestino para Goiânia, algumas roupas velhas de doação, meio saco de farinha de puba, meus documentos, algumas especiarias da minha região e a fé e esperança de vencer na vida e ter uma vida verdadeiramente digna. Me lembro que todos ficaram felizes com a minha aprovação, mas também com muito medo de eu passar mais necessidades ainda na cidade grande, onde eu não poderia plantar e colher a minha comida como fazia na minha comunidade outrora. Tiveram uns maldosos que falaram que eu viveria em situação de rua ou que eu ia me envolver com alguma coisa "errada" para sobreviver, ou ainda que  filho de pobre não estuda  Direito. Até eu conseguir uma bolsa de Assistência Estudantil na faculdade de 400 reais mensais, foram meses de fome, choro e humilhações em uma República estudantil na qual eu dormia no chão com um colchão velho rasgado, esse da foto apresentada. Em 2021 participo de um edital de vagas remanescentes para o curso de Direito, no qual eu passo em 4 lugar, foi mais um momento de pura emoção e significação, era um sonho, pois sempre me via como um profissional do Direito, inclusive uma vez uma querida professora de Estudos Amazônicos profetizou na sala de aula da 7 série do ensino fundamental que eu seria um um dia um grande advogado. Recordo-me que a turma ficou calada ouvindo aquele relato, uma turma que a maioria infelizmente já não se encontra aqui mais para contar história e ver a minha consquista, alguns se foram para o mundo do crime e outros morreram na exploração da força do trabalho em garimpeiros ilegais da minha região de origem. Enfim, penso que esse relato ficará muito grande, terei que reduzi-lo por aqui. Gostaria da ajuda de todas, todos e todes vocês para eu concluir o meu maior sonho que é me formar na faculdade de Direito aqui na UFG e poder retribuir essa grande consquista com a minha comunidade na amazônia e também com todos/as aqueles/as que não se sentem acolhidos em sociedade  ou que se encontrem em situação de vilipêndio  dos seus direitos fundamentais. Daqui, estou seguindo um dia de cada vez, mesmo com a depressão profunda, serenando a alma pela fé que virão dias de vitória... Buscando caminhar com coluna ereta, com responsabilidade, mas me dando o tempo necessário para não agir intempestivamente. Refletindo e refletindo para não ser reduzido a algo que não a verdade e autenticidade de um jovem cansado, ribeirinho amazônida que lutou a vida toda até aqui. A verdade de uma existência cheia de dificuldades, inumeráveis arestas e crispações diante dos próprios limites e medos, tentando não perder a  ternura por nós, simples e complexos humanos do reino animal e do cultural construído. Estudando e estudando para não ser reduzido a mais uma estatística. Acordando de manhã com fome pela ausência do básico e novamente enfrentando os Leãos do dia a dia sem café da manhã. Me faltam os direitos fundamentais, mas a esperança que há em mim me anima para seguir em frente mesmo com fome essa jornada árdua. Nessa perspectiva, são 2 meses de aluguel atrasados, anos de fome, desemprego e muitas necessidades básicas. 

Bjs, que Deus e todas entidades imateriais abençoem e guardem  todos vcs.