Biblioteca para crianças e jovens em Hyderabad, na Índia

Uma breve história

Meu nome é Bárbara e há um mês estou na Índia, especificamente na cidade de Hyderabad, realizando trabalho voluntário pela AIESEC. Em meu projeto, que se chama Footprints, dou aulas de inglês para crianças e jovens de baixa renda dos 5º, 6º, 7º, 8º e 9º anos. Numa escola diferente das que eu já estudei e com outros métodos de ensino, a adaptação foi uma barreira no início do projeto. Sendo a única mulher a não usar sári e utilizando práticas diferentes para o estudo dos alunos, era muitas vezes difícil ser vista como professora.  Contudo, o tempo foi passando e, de pouco em pouco, fui ganhando meu espaço. Espaço com mais respeito, compreensão e até mesmo com mais carinho. Alguns alunos começaram a entender minhas didáticas e eu comecei a entender as deles. Recebo flores, cartinhas, desenhos, almoços, chaveiros e agora até beijinhos em estilo brasileiro, ou melhor, capixaba. Fico cada dia mais encantada com toda a sensibilidade. Na realidade, mesmo estando há um mês aqui e tentando me adentrar cada vez mais nesse país distante, não deixo de ser uma grande espectadora. Tentar compreender e explicar  tudo o que se passa por aqui, talvez não seja apenas uma tarefa difícil, mas uma tarefa que não deve ser feita, apenas sentida.

Claramente, observar falhas na escola foi algo que não demorou muito. Primeiramente, o cheiro já é algo estranho para quem está chegando. A escola fica ao lado de um rio com muito lixo acumulado, a água chega a ser preta. As salas estão sem portas, muitas paredes estão pela metade, e muitas ainda estão sem pintura. O espaço da escola e das salas também é muito reduzido, e alguns materiais, como mesas, estão quebrados. Com tudo isso, o desenvolvimento dos alunos é bastante prejudicado, uma vez que não possuem espaço para circular e convivem diariamente com os barulhos da rua e das outras classes. Mas mesmo com tudo isso, a escola é limpa e organizada, os diretores estão sempre presentes, as professoras são muito simpáticas e os outros funcionários são muito atenciosos. Todos vivem em harmonia e parecem gostar muito da escola, que sinto ser um ambiente bastante acolhedor.

A biblioteca

A idealização da biblioteca foi assim resultado de algumas semanas de observações, percepções e sentimentos. Com todas as dificuldades já ressaltadas, observei uma carência de um espaço para os alunos poderem ler, relaxar, conversar e estudar. E sendo assim, decidi juntar alguns alunos do 9º ano para criarmos um grupo de estudo no qual discutiríamos problemas e falhas da escola. Não mais a percepção seria minha, mas deles, que estão lá diariamente e há muito tempo. Quem melhor para saber o que se precisa na escola do que os próprios alunos? Depois de realizarmos um brainstorming e algumas rodadas de discussão, muitas ideias, vontades e desejos surgiram, e, em todas elas, a biblioteca estava presente. E o mais importante, o reconhecimento da biblioteca como um espaço de desenvolvimento, potencializador de mudanças e de enriquecimento intelectual e coletivo, era algo sentido por todos. E essa vontade era ainda maior uma vez que muitos alunos além de não possuírem internet, não possuem recursos para comprar livros.

Sendo assim, escrevo isso a vocês, em primeira pessoa, mas esse projeto é uma ação coletiva (minha, dos alunos, das famílias, dos professores, da comunidade), e, se possível, de vocês. Criamos um slogan “share books, share knowledge”, fizemos cartazes e espalhamos por toda a escola, avisamos de sala em sala e estamos avisando às famílias e a comunidade. Estamos ansiosos para arrecadar os livros e poder organizar nossa biblioteca com o maior carinho possível. Nossos olhos estão cheios de vontade de mudança. Esse projeto é um projeto de todos para todos, e, nossa ideia é que todos saiam beneficiados com isso.

A escola – Vision Model High School

A Vision Model High School é uma escola privada que funciona como uma alternativa do governo para atender comunidades de baixa renda. Nesse modelo, denominado The Affordable Private School, é cobrado uma mensalidade de 500 rúpias indianas para as famílias, o que gira em torno de 27 reais. Importante ressaltar que essa taxa mensal representa 25% da renda média anual da maioria das famílias.

A diferença desse modelo de escola e uma escola pública é que o primeiro possui nível de inglês médio. Além disso, esse modelo procura fornecer um caminho para os alunos entrarem no mercado de trabalho cada vez mais globalizado, utilizando ferramentas e conhecimentos para conseguirem um emprego.

Especificações do projeto

Todo o dinheiro arrecadado será revertido na compra de livros, estantes e materiais de papelaria para organizar o acervo da biblioteca. 

Onde os livros serão comprados:

• http://www.prathambooks.org/

• http://www.tulikabooks.com/catalog_img/resources/105.pdf

• http://www.duckbill.in/book-page.php?book_id=74&&category=new

• http://www.kidsstoppress.com/2014/04/75-books-every-child-must-read-indian-authors-included/

• http://www.udgamschool.com/school-library

Parafraseando as lindas palavras de meu amigo Luiz Filipe Motta, "Ler é o sentido complementar. Não aquele sexto sentido das premonições, mas algo que te permite compreender o que os sentidos não alcançam. É o superpoder mais difundido do mundo.

Faça sua doação e ajude essas crianças a desenvolver esse poder, lendo clássicos, contemporâneos, livros técnicos e, por que não, algumas histórias de heróis superpoderosos como elas".

Seja na Índia, no Brasil ou em qualquer lugar do mundo, vamos empoderar nossas crianças!

*Identidade visual: Chablau!

*Fotografia: Bárbara Bragato