Billie Holiday, A Canção

Montar um espetáculo sobre a maior cantora de jazz de todos os tempos, Billie Holiday, considerada um grandioso expoente no canto jazzístico, num grande centro cultural brasileiro, talvez não tivesse importância tão significativa quanto seria a sua montagem em Sergipe. Especialmente, quando nos últimos trinta anos Sergipe se projetou nacional, e internacionalmente, pela potência de seu teatro popular. A força deste teatro, porém, criou o estigma de que Sergipe só produzia ou tem que produzir somente espetáculos de caráter popular. A perspectiva de se passear em outras e novas estéticas para o teatro sergipano é a constatação de que não só podemos como devemos, sim, montar e produzir também outros gêneros de concepção teatral, sem deixar, obviamente, de reconhecer a importância do teatro popular que é produzido no Estado.

Contar a história da grande artista jazzista é se conectar com o mundo, considerando que Billie Holiday foi uma mulher que vivenciou os mesmos dramas, inquietudes, incertezas, infortúnios e desafios como qualquer pessoa do nosso tempo. Uma artista que rompeu as barreiras raciais e machistas para se fazer compreender e ser respeitada em sua individualidade, em contraponto à universalidade de sua obra.

Billie Holiday, a Canção não é um projeto estrangeiro, é um projeto sergipano  que parte da sensibilidade, da escrita e do olhar poético do maior autor, vivo, de Sergipe, Hunald de Alencar, uma das mais importantes expressões da literatura e dramaturgia nordestinas, cuja produção carrega a verve de nossa herança cultural. É um projeto pioneiro, desafiante, audacioso, que situa o nosso território ao falar de temas universais. E que sua montagem será um divisor de águas para o teatro de Sergipe. É um marco mundial, pois o projeto atende a um grande desejo da diva negra do jazz, que em vida almejou ter uma música composta especialmente para ela - o que nunca aconteceu. No texto dramático Billie Holiday, a Canção, o autor realiza o seu desejo ao lhe escrever uma canção, ainda que ela não possa ouvir.