Cárcere, de Alex Sugamosto, é uma peça teatral que apresenta dois grandes temas: a história do teatro e a aquisição de um conhecimento libertador. Dessa forma, ela é, ao mesmo tempo, um comentário sobre a natureza do teatro e uma espécie de morality play esotérica pós-moderna.
Em um primeiro lugar, o livro constitui em um grande tour-de-force meta-teatral, onde a maioria dos estilos dramáticos ocidentais encontram-se representados. A tragédia grega, o drama do siglo clásico espanhol, o drama burguês de Ibsen, o teatro de Pirandello e Beckett, o cinema pop contemporâneo, cada um encontra seu eco em seu texto.
Pode-se afirmar, portanto, que essa peça apresenta o teatro ocidental como um todo. De um ponto de vista estrutural, observa-se essa representação em seu próprio desenvolvimento. São dois atos, no primeiro, Eulália e Reinaldo são figurados na posição de rei e rainha, que certamente remetem às figuras coroadas e mitológicas que formavam, como Aristóteles já havia remarcado, o assunto principal da tragédia e assim permaneceram até o início da era moderna. Já o segundo ato possui um ambiente bem mais prosaico, se passa na vida de dois atores (os mesmos Eulália e Reinaldo) em algum lugar contemporâneo no Brasil. Essa variação também reflete a mudança do mundo mitológico para o mundo do quotidiano que se manifestou de maneira mais evidente no teatro burguês do século XIX.
As referências são muitas: Calderón de Barca, Pirandello, Matrix... Mas se for para eleger uma influência central no drama, eu diria que é o grande dramaturgo italiano. Duas de suas peças são as de que mais se encontram ecos. A primeira é Enrico IV, a grande peça da loucura do rei em cuja realeza ninguém acredita, e ressalta principalmente no primeiro ato; a segunda é Sei personaggi in cerca d'autore, a obra-prima onde os personagens ganham vida e vencem o próprio autor.
E essa preocupação pirandelliana sobre a fluidez entre realidade e ficção é a grande metáfora da peça de Sugamosto, no sentido em que ele que faz a ponte entre os dois temas centrais de todo o texto. Ao contrário dos Seis Personagens, eles não têm tanta consciência de sua existência dramática, em um sentido, são mais para Enricos cuja fratura do tecido dramático vai permitindo pouco a pouco que eles percebam sua essência teatral.
É nesse ponto de passagem que os dois temas são entrelaçados na peça: o gnosticismo e a história do teatro. O primeiro está presente nas diversas referências religiosas (o segundo Reinaldo é um devoto característico, quase um Tartufo), principalmente na associação, explícita ao fim da peça, do autor com o Criador divino. Os personagens, ao fim, libertam-se do autor como se libertassem de um Demiurgo mau. Nesse sentido, o texto pode ser visto também como uma aquisição de uma gnose, um conhecimento, que liberta os personagens das amarras de um ser controlador. Daí as referências a Virgílio (o guia de Dante na Commedia e, consequentemente, um psychopompos), mas, sobretudo, a Matrix, que aparece em uma referência velada ao longo da peça, mas traduz um tema essencial de todo o texto.
Podemos também aproximar o desenvolvimento do drama com a filosofia e religião do sul da Ásia. Como se sabe, um tema central, tanto para o hinduísmo, quanto para o budismo, está no ciclo das reencarnações, no fluxo incessante de nascimentos e mortes que todo ser deseja escapar por meio da libertação. Esse ciclo de nascimento e morte também figura aqui, nas duas “aparições” distintas de cada personagem, nas diversas personalidades assumidas por vários dos indivíduos da peça. É apenas quando véu da māyā cai e revela-se a natureza teatral do autor que os autores adquirem a capacidade de superar esse ciclo. Dessa forma, ao fim, como o bodhisattva que adquiriu o mokṣa, isto é, a libertação do ciclo do saṃsāra, os personagens conseguem se libertar das amarras do autor. Com isso a peça termina.
Dessa maneira, podemos ainda recapitular os dois temas e perceber que Sugamosto parece fazer uma equação entre a jornada esotérica dos personagens com a jornada do drama ocidental. A impressão que fica é que o fim da peça parece fazer um próprio comentário sobre a natureza do teatro contemporâneo. Será que a ilusão cênica foi retirada de nossos olhos e o teatro não é mais possível? São respostas que não estão no texto, mas ele acaba colocando essas questões para nós. Com isso, Cárcere conclui de uma maneira aberta, sem uma conclusão explícita, mas abrindo questões que cada um dos leitores/espectadores deve responder por si mesmo.
(Da introdução escrita pelo Dr. Bruno Gripp)
Alex Sugamosto, 30 anos, é professor e escritor. Em 2014, foi um dos finalistas do prêmio OFF FLIP na categoria poesia e já publicou textos em revistas, livros didáticos e portais de opinião. Nascido sob o signo da Idade de Ferro, Alex proclamou-se o último dos “anarco-monarquistas” (embora ainda acredite no Sebastianismo de Canudos).
A editora Simonsen publica livros ousados e variados, sempre com alta qualidade gráfica e de comunicação. Renomados autores como Mario Vargas Llosa, Tom Perrotta, Rodrigo Constantino, Maria Valéria Rezende e Phyllis Schlafly fazem parte de seu catálogo e seus livros já figuraram nas páginas da Folha de S.Paulo, do Estadão e da revista VEJA.
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