Construção do Museu-Vivo das Marrecas Kariri

            Esse projeto tem como foco a construção de Museu da Comunidade do Marreco a fim de testemunhar a nossa história. Serão três espaços, uma geodésica que ficará a exposição dos artefatos da cultura Marrecas Cariris (artesanatos de palha de milho, tecido, cabaça, barro, remédios caseiros, raízes, potes, vestimentas dos vaqueiros); um segunda geodésica que servirá como salão para uso da comunidade, uma vez que os moradores precisam se deslocar para comunidades vizinhas para participar das reuniões de interesse social, político e de saúde, assim como as demais ações que seja possível organizar neste espaço; e um terceiro módulo contendo um banheiro, uma copa e um almoxarifado. A construção do Museu auxiliará a comunidade a contar sua narrativa cabocla e trazer um sopro de resgate de identidade para a etnia “Kariri do Siará” (Cariri do Ceará). Para esse sonho se realizar nos faltava o recurso, com essa colaboração vamos levantar nossas paredes, fazer nossa oca para firmar o resgate.

“nossos ancestrais nos deixaram pistas. Sigamos.” (Ailton Krenak)

           Com o avanço da modernidade quase esquecemos nossa história, no entanto o ancestral sempre fala mais alto, por isso, precisamos escutar sobre esses rastros e revitalizá-los, o modo caboclo de se articular no mundo sempre esteve presente no nosso cotidiano, plantamos e colhemos pelos sinais da lua, nossos agricultores descansam no período de meio dia enquanto o sol brilha mais forte, a natureza sempre nos mostrou as veredas de seguirmos. Nossos passos são dessas terras, nascemos e nos criamos no Cariri, nossas pisadas conhece esse chão como a mãe que é.

            A comunidade do Marreco fica situada na zona rural do distrito de Quitaíus, Lavras da Mangabeira, CE. Essa comunidade tem dois marcos na sua história, em 1999 foi coberta por água (açude do Rosário) e os parentes se desencontraram, seis famílias resolveram ficar e recriar a comunidade Marreco, que fica de frente a esse açude. Essa comunidade está desde então, com o projeto de fazer o seu museu, tanto para expor artefatos dessa história que rememora constantemente a cultura indígena kariri, como para ser um espaço para manifestação dos seus artesanatos, práticas de rezo, raizeiros, parteiras e acolhimento das artes. O projeto de um museu vivo é sobretudo um grito para reivindicar nossa existência, preservando e protegendo os patrimônios materiais e imateriais da caboclagem kariri.

           A comunidade sofre com a ausência de escuta por meio de politicas publicas, tendo que se deslocar para a cidade para ter acesso a atividades culturais e educativas. A construção do Museu das Marrecas trará um córrego de oportunidades de acesso a população e recepção de pessoas para trocarem conosco, além do desenvolvimento social, de impacto a curto e longo prazo. Sonhamos com esse espaço há alguns anos, enxergamos nesse projeto uma possibilidade de revitalização ancestral, “essa retomada só é possível porque apesar de toda a colonização, os modos de ser indígenas se mantêm vivos, mas muitas vezes, adormecidos dentro de nós.” (Márcia Mura).

           Espaços como esses são retorno e abertura e escuta das nossas memórias, romper com o silenciamento e expor nossas raízes como parte do que ainda somos. O Museu das Marrecas é um selo de retomada de um povo que foi dado como extinto, por isso, é um sonho contra-colonial, não esquecemos por nenhum instante que andamos em bandos porque somos antes de qualquer coisa, Marrecas.

COSMOVISÃO

          Todo vivente dessa comunidade cresce escutando que éramos marrecas, andávamos em bandos, migraram do Maranhão para o Cariri. Dizem que teve um tempo que um moço curioso mergulhou no açude do finado Chico para amarar os pés das marrecas que estavam ali a observar o pô do sol, o “enxerido” amarrou as trinta marrecas e antes de puxá-las para baixo a fim de afoga-las para assar num guisado, o coletivo de marrecas alçou voo levando junto aquele magrelo, pousaram no Maranhão, ficando lá de férias, enquanto ele teve que voltar a pé no mesmo dia. No inverno do ano seguinte elas voltaram a fazer morada pelo Cariri. Somos descendentes de Marrecas, essa é a nossa cosmovisão.

          OBJETIVO

          A ação deste projeto reverbera para toda a comunidade Cariri e inspirará outras comunidades, o resgate da história da comunidade, soma a presença forte e necessária dos ancestrais. A comunidade do Sítio Marreco teve sua história fissurada desde a construção do açude do Rosário de Quitaíus, Lavras da Mangabeira, CE, que apesar de trazer benefícios para a agricultura e pesca familiar da região, trouxe consigo danos sociais, alguns até irreparáveis. A comunidade já está organizada e unida para essa reconstrução histórica ocorrer. É válido ressaltar que já temos o chão onde será feito o Museu das Marrecas, caso consigamos ser comtemplado esse valor será para comprar o material para a construção do espaço, que será feito pelos próprios moradores que em sua maioria são agricultores, artesãos e pedreiros. A construção de um museu vivo é um resgate da memória de um povo e também um espaço para a saúde das crianças e jovens, oportunizará crianças, idosos, adultos e jovens ribeirinhos sertanejos a construírem um lar de resgate dos que passarem por essa terra e de aprendizado para um futuro mais digno.

       METAS E OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Compra do material de construção do espaço

• Planilha de ações do levantamento do espaço

• Sistematização do patrimônio material e imaterial dos Cariris do Ceará

• Resgate ancestral indígena Kariri Siará

• Acesso à formação de jovens da zona rural

• Espaço para produção de conhecimento cultural da comunidade

• Construção do Museu das Marrecas

Projetos arquitetônicos: Larissa Galvão - Arquitetura e Urbanismo para Sustentabilidade

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