Exposição "Raízes do Terreiro Azul e Branco"

Ultrapassando a dimensão do próprio carnaval brasileiro, o desfile das escolas de samba a cada ano confirma seu ‘status’ de maior festa brasileira. E é nesse cenário que a disputa entre as escolas pelo título de campeã acaba por envolver paixões pessoais e cifras cada vez maiores.

Na Portela também é assim!

O que difere a Portela é a força de seu Departamento Cultural. Escola formadora, pioneira, participante e formadora de todos os desfiles realizados, desde 1932, maior vencedora de títulos, tem, nas linhas melódicas de seu maior baluarte vivo, Mestre Monarco, um livro repleto de histórias com conquistas a valer. Ainda segundo o Mestre, “Se for falar da Portela, hoje não vou terminar”.

O Departamento Cultural da escola se posiciona entre a necessidade da conquista do título, esperado desde os anos 1970, e a valorização, busca e preservação de suas tradições, páginas do tal livro de tantas histórias.

Desenvolve seus projetos situando-os ora como “culturais” ora como “eventos”. Com seus membros conscientes da importância de seu papel nos destinos da escola, volta suas atividades para valorizar o corpo de componentes da agremiação, de seus baluartes e de sua história.

O Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, ao longo das suas nove décadas de existência, vem arrebatando corações por motivos variados. Alguns se enamoram pela escola graças à sua águia, a cada desfile esperada, sempre trazendo novidade ou beleza únicas.

Outro grande fator de aglutinação é a acolhida proporcionada pela escola e seus integrantes, naquilo que alguns já chamaram de "fidalguia portelense".

As cores da Portela também são um outro elemento de grande impacto. Afinal, seu azul-e-branco é referência no carnaval carioca (o azul Portela não é qualquer azul!).

Há ainda um generoso número de pessoas que consolidaram seu amor por uma outra nobre razão: a música. A criação musical dos compositores portelenses, desde sua trinca fundadora Paulo, Rufino e Caetano, é padrão de qualidade. A linha melódica e poética plantada em Osvaldo Cruz frutificou, e a partir da contribuição de portelenses de todos os cantos, se diversificou, resultando em sambas de terreiro, sambas-enredo e partidos-altos antológicos. São canções que exaltam a escola e seus valores, que falam de amor e desilusões, do congraçamento entre os sambistas, de aspectos filosóficos da vida, dentre outros temas. Parte desse universo musical ficou registrado em discos feitos a partir dos anos 50, antes até do surgimento dos discos oficiais da Associação das Escolas de Samba. Alguns por iniciativa de gravadoras e produtores externos à escola, outros resultados de concursos internos promovidos pela Ala de Compositores. Há, ainda, o caso da Velha Guarda Show, um coletivo organizado a partir de 1970 por iniciativa de Paulinho da Viola com a intenção de perpetuar a memória musical portelense, que construiu uma bela trajetória de discos e apresentações.

O Departamento Cultural gostaria de devolver aos portelenses e ao público em geral essa história. Para tal, pretendemos realizar uma exposição que enfoque tal discografia. Nosso critério de escolha recairá sobre discos coletivos que tiveram o intuito de levar para fora da comunidade da Portela o repertório cantado no terreiro/quadra da escola, ficando excluídos, nesse momento, os projetos individuais de compositores. Serão exibidas reproduções das capas dos discos abordados, acompanhadas de textos explicativos sobre todas as obras expostas. Além disso, os áudios de cada álbum serão disponibilizados para o visitante, identificados por nome e compositor. Assim, almejamos tornar mais conhecida essa página bela de nosso livro, contribuindo para que a memória da Portela seja cada vez mais motivo de orgulho e identificação por parte de seus componentes.