Filme: Lovers and Other Strangers

"Lovers and other strangers" além de ser título de uma exposição por Jack Vettriano - que dá ao roteiro uma referência pictórica - é também o título do filme dentro do filme e traz de uma forma muito irónica, sessões de psicanálise, a cozinha de uma cartomante, mas não só. Os personagens - quase surreais - divididos entre tragédia e comédia, condensam e simplificam temas filosóficos da existência humana. As referências musicais do jazz dos anos 50, juntamente com o esquema das cores, sem movimento de câmera e enquadramentos construídos como pinturas, completam a atmosfera teatral e onírica desse filme particular e nada óbvio. 

A vida de seis personagens lutando com seu próprio amor doloroso e complicado além de um presente tramado pelo passado se apresentam no consultório psicanalítico do Dr. Bernard e Dra. Chiara. Vivi não pode perdoar seu companheiro um erro político do passado; Beatrice uma menina que se comporta como um adulto mas ainda precisa das mamadeiras; Sr. Brambilla está dormindo com sua ex-esposa depois de casar com um amigo do futebol; Sr. Francot é obcecado com as origens de seu nome e adquire personalidade de outras pessoas; Michela está, sem esperança, apaixonada pelo chefe, que teve a perda de sua esposa de uma maneira exageradamente inusitada; Daniela assisti a vida passar, comendo sentada no balcão de um bar para não admitir a homossexualidade do marido ... Mas também os dois profissionais da psique necessitam de conforto, e enquanto Bernardo procura o apoio da colega, Chiara acaba na casa da cartomante Corina, que por sua vez confessa um caleidoscópio de eventos narrando sentimentos nunca metabolizados.

O diálogo em duas vozes torna-se o tempo e o momento que recompoem a história: o coro dessas pessoas quebram a voz da dor, e por vezes, juntam-se em uma ironia desencantada que dá ao filme o ritmo do coração. E talvez até mesmo da vida. Tudo isso acontece desapercebidamente em Milão, a cidade italiana das pessoas invisíveis.