Meu nome é Ana Paula e tenho 43 anos, sou uma mulher preta, periférica e mãe solo de quatro filhos.
Minha vida desde a infância foi repleta de violência, abusos de todas as ordens inimagináveis e inacreditáveis.
Recordo-me que quando estava na segunda série do ensino fundamental - estudava das 11:00 às 15:00, na Cidade Tiradentes em 1988 -, minha mãe foi presa pela primeira vez. Minha mãe sempre voltava pra casa à noite, mas nesse dia não voltou.
Passamos a morar, eu e meus irmãos com meu genitor biológico. Seguimos uma rotina um pouco diferente. Sou a filha primogênita de 4 irmãos, naquela época o caçula tinha 2 anos, como era a mais velha, cuidava dos mais novos, colocava o caçula pra dormir.
Meu genitor biológico nos batia com fio de extensão, era viciado no “back” daquela época e pedia para eu segurar forte o braço dele, se drogava na minha frente.
Quando meu algoz – genitor biológico – me tirou da escola na 5ª série a diretora da escola e as professoras sabiam que minha mãe estava presa e das inúmeras violências que sofria em casa, mas se calaram. Fui tirada da escola, chorei muito naquele dia, gostava de estudar.
No início da vida adulta fui mãe, hoje tenho quatro filhos, os quais criei e crio com devoção.
Hoje aos 43 anos de idade sinto que minha voz tem valor e surte efeito, pois ninguém mais pode me bater, violentar e nem me calar.
Sou também mais uma sobrevivente do sistema penitenciário racista e seletivo desse país, desse sistema de moer pessoas como eu.
Um belo dia olhei para enfermagem como forma de amor e devoção ao próximo, foi quando resolvi estudar com a certeza de que ninguém mais me tiraria da escola, do meu lugar. E mesmo o sistema me olhando como uma perda de tempo, ousei e voltei a estudar, hoje digo em voz alta e tom forte: onde foram omissos comigo, onde sofri diversas violações respondi com resistência, me comprometi comigo mesma a ser fiel e persistirei até o fim.
Iniciei no dia 08 de março de 2022, o curso de auxiliar de enfermagem, minha menor nota foi 9 (nove). Isso porque me dedico e me empenho ao máximo. O que mais quero na minha vida é concluir esse curso, poder exercer essa profissão com dignidade e amor.
Quando estiver em condições financeiras também cursarei uma faculdade. Serei uma enfermeira não omissa a qualquer tipo de violação de direitos, seja ela qual for, pois conheço na pele a violência e opressão, porque existem pessoas covardes e convenientes na sociedade, a qual é cheia de moralismo mesmo diante de sangue, dor e lágrimas.
Quando iniciei o curso de enfermagem me senti livre, percebi aos 42 anos de idade que não precisava mais ter medo, porque meu algoz já não existia.
Nunca fui rebelde, como tentaram me fazer acreditar, mas sim refém de um homem que por meio da força física abusava de mim, assim como a escola que na época preferiu se calar e manter uma criança violentada fora dali, a fim de preservar e não escandalizar a moral de um homem.
Quando comecei a estudar enfermagem renasceu uma mulher dona de si, que ninguém mais poderia molestar seu corpo e muito menos matar seus sonhos, afinal aquela menina indefesa de 9 anos de idade cresceu, tornou-se uma guerreira com suas crenças e seus ideais, tornou-se livre da escravidão física, emocional e psicológica, assim como de seus traumas e pesadelos assombrosos.É muito fácil participar.
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