Livro "Blues - The backseat music"

Levar a vida na estrada é bom. Levar a vida na estrada com seus ídolos do blues é melhor. Poucos têm o privilégio de trabalhar com o que gosta. Trabalho com artistas de blues e jazz. Cresci ouvindo os caras. Fui operário, motorista, jornalista e hoje sou produtor cultural. Meu trecho percorri sozinho, independente. Gosto de pensar que estou honrando os artistas negros que lutaram e lutam contra o sistema. Nas letras de blues, são chamados de “bossman”. O blues nasceu nos cafundós do Mississippi (EUA) no começo do século passado e chegou aos dias atuais graças à tradição. E graças aos seus fanáticos discípulos. Sou um desses caras. Não tô nem aí para o que toca na TV. Vou continuar fazendo o que faço há anos, curtindo e produzindo os blues. Essa é a minha paixão, essa é também a minha sina.

Tenho uma vantagem sobre os outros jornalistas. Estou muito próximo aos meus entrevistados, mas sem ser íntimo deles. Minha atividade de produtor de shows me colocou nessa posição. Daí a surgir a ideia de construir um blog foi um passo. O Mannish Blog entrou no ar, em 2009, com conteúdo próprio. Lá pela 60° entrevista me perguntaram porque não registrava isso em livro. Gostei da ideia e comecei a pesquisar editoras. Primeiro em Santos, de onde venho. Não deram a menor bola. Depois pelo Brasil, resultado idem. Sintomático, o blues não fecha a conta no final do mês. Todo mundo diz que gosta, mas ninguém quer por dinheiro. Fuck’em all. Eu mesmo publico. Por isso, estou pedindo dinheiro aqui. Se você ama o blues, essa é uma boa oportunidade de mostrar isso.

Os blueseiros se dizem contadores de histórias (storytellers). Por isso, as entrevistas com artistas daqui e de lá, onde contam a história de suas vidas no blues. Entre eles, André Christovam, Blues Etílicos, Nuno Mindelis, Sérgio Duarte, Igor Prado, Alvaro Assmar, Jefferson Gonçalves, Mauro Hector. Entre os gringos, John Paul Hammond, Corey Harris, Shemekia Copeland, Larry McCray, John Primer, Pierre Lacoque e o capo da Alligator Records, Bruce Iglauer. Todos reunidos em um único volume. É a primeira vez que uma obra brasileira sobre o blues ganha essa dimensão. A intenção é te colocar lá dentro da história; por isso, o tom coloquial da entrevistas. O blues não tem frescura, eu também não tenho. E espero que quem leia esse livro também não tenha.