Asa Branca não voa mais. E agora?
Quase achei que seria pra sempre, quase. E posso dizer que nem o fim do mundo foi capaz de nos separar. Mas nada pode durar para sempre.
Foi uma tragédia anunciada, que ainda assim, me pegou despreparada. No fundo eu já sabia que provavelmente aquela seria sua última viagem, mas a gente sempre quer mais, a gente sempre pensa que pode um pouco mais. Quem não se apega a um grande amor?
Gostaria de poder, em um ritual de necromancia, trazê-la de volta à vida. Mas que desrespeito à sua memória isso seria!
A história não deveria se repetir. Não quero que ela compartilhe o mesmo fim que a saudosa Magrela. Talvez eu devesse deixá-la descansar em paz. Mas como, se sem uma bicicleta sou eu quem não consigo ter paz!?
Me tornei um ser simbioticamente dependente, incapaz de experimentar a vida como eu conheço, sem uma conexão indissociável com a bicicleta. Pois é através dela que posso manifestar a minha liberdade de existir.
Pra mim uma bicicleta é muito mais do que esporte, hobby, ou meio de transporte. Não é só uma geringonça que por acaso vem a ser o melhor e mais eficiente veículo terrestre já inventado. É tudo isso e muito mais. É instrumento de cura e libertação, companheira de vida que me levou a conhecer novos lugares e pessoas, e pedaços escondidos dentro de mim. Sou irremediavelmente dependente do seu poder transmutador, que me alivia de quase todas as dores do corpo e da alma. E inclusive se você está lendo isso agora é por causa dela. Pois foi provavelmente graças a ela que a gente se conheceu.
E todo esse preâmbulo nada engraçado foi o máximo que consegui escrever pra tentar te comover, antes de dizer que a Asa Branca foi dessa pra melhor, e que agora eu estou na pior e preciso da sua ajuda para conseguir uma substituta à altura desta, que me ensinou a voar.