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Preconceito contra os nordestinos
Preconceito contra os nordestinos
Vilma Amaro
São Paulo - SP
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Preconceito contra os nordestinos

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Memória de  tempos  tristes e de superação

Quando eu trabalhava perto da antiga Estação Rodoviária de São Paulo, no centro da cidade de São Paulo em fins de década de 60, passava por muitas pessoas que vinham do Nordeste em busca de melhores oportunidades. Eu era bem jovem e ficava muito comovida com as famílias  sentadas nas calçadas com filhos pequenos. As mulheres, com lenços brancos na cabeça (imagem que me ficou para sempre)  com olhares perdidos  , quem sabe  preocupadas e apreensivas com o futuro numa cidade bem diferente de seus locais de origem. Uma cidade barulhenta , apressada, o oposto de suas regiões onde talvez ouvissem de manhã passarinhos, e se conversava com tranquilidade com a família, apesar da pobreza que então, na época, enfrentavam.

E uma imagem recorrente na minha memória quando penso no tema é a família se retirando de suas terras  em "Vidas Secas",  romance dos mais importantes em toda a história da literatura no país, do grande Graciliano Ramos. Que se transformou em um filme brilhante dirigido por Nelson Pereira dos Santos. 

E outra imagem também que me ficou foram as famílias saindo de suas regiões em caminhões pau -de- arara deixando tudo para trás. Quem já leu o livro e viu o filme não se emociona com a cachorra Baleia que corre atrás do caminhão da família que se retira ? Imagem triste ,simbólica e poética. As referências familiares talvez sendo perdidas. E, que na minha opinião, felizmente, nunca se perderam. E hoje muitos puderam voltar já bem sucedidos e depois de décadas de trabalhos duros e sofrimento  a seus locais de origem. E muitos ficaram com seus filhos e netos em seus novos lares. 

Enquanto o pai vai buscar trabalho...

Como ia dizendo, via nas calçadas do centro de São Paulo, crianças quietinhas outras dormindo cansadas no colo de suas mães  ,esperando, talvez, o pai chegar da busca por trabalho. Ao lado, alguns sacos de farinha branquinhos com seus pertences. E lembrava da música de Luiz Gonzaga  que "a maleta era um saco e o cadeado era um nó". 

Pensava então comigo: alguma vez vou fazer alguma coisa  que possa  relembrar aquele período em que as famílias dos estados do Nordeste tinham que sair de suas referências  talvez no sertão em busca de trabalho e mais felicidade. Décadas depois na minha atividade fiz um jornal "Força Nordestina", mostrando  o valor dessas pessoas que construíram o progresso de São Paulo. E muitas ergueram prédios e escolas , nas quais como diz uma certa canção seus filhos não iriam frequentar. O jornal impresso teve sucesso mas não foi possível continuar  por falta de recursos da editora que acabou fechando. Anos depois, e mais recentemente,  fiz com alguns competentes companheiros ,uma revista eletrônica com esse mesmo objetivo : retratar as conquistas desse povo corajoso e valente que deixou tudo para trás para  legar a seus filhos uma vid a mais tranquila. Para que eles pudessem estudar e ter dias melhores. 
De novo, faltaram recursos para levar adiante o projeto da revista eletrônica "Acumaé Força Nordestina" que pode ser acessada no Google. O objetivo era mostrar as dificuldades e conquistas do povo nordestino . Suas vitórias. Seu sucesso  a superação das dificuldades e tristezas. E ao mesmo tempo, as realizações hoje dos governos da região, nos campos econômico, educativo, cultural, entre outros. Falar  desses avanços e mostrar também as belezas naturais da região, das mais lindas do mundo.
Décadas depois e apesar das conquistas da região e do sucesso de muitos a que se  chamavam retirantes  ainda vejo com tristeza os preconceitos contra o povo nordestino.
E que se acentuaram recentemente. É um preconceito estrutural, descabido e que deve ser punido conforme a lei.

Falta de sensibilidade e ignorância

Quem nunca ouviu as expressões "coisa de baiano" ,"aquele cabeça chata"  só podia ser daquele paraíba" , e outras mais agressivas no intuito de menosprezar e não de enaltecer o povo  do nordeste, tão brasileiro ,como qualquer outro de nossos estados ?

E a agressividade já há algum tempo aumentou pelas redes sociais onde se lê toda espécie de impropérios contra o povo da região, além de imagens e conteúdos violentos.

Alguns pesquisadores consideram o preconceito contra o nordestino como uma forma de racismo baseado em sua origem negra e indígena. O preconceito contra os nordestinos, no entanto,  se expressa no momento em que deixam seus estados de origem. A partir da década de 40, em especial, quando vão chegando aos estados estados do sul e sudeste. Ali lhe são reservados os trabalhos mais duros, em especial na construção civil. Emprestaram seu suor e sacrifício para construir a grandeza de uma grande cidade, a exemplo de São Paulo.

Para outros historiadores, os nordestinos não vieram para outros locais por sua livre vontade, mas, se pode considerar como expulsos de suas terras por segmentos poderosos,  insensíveis  à produção da miséria que geravam em suas atividades. E não era, apenas, o problema da seca. Alguns estudos foram feitos e várias  são as interpretações sobre o preconceito contra  esse povo  que vamos abordando na medida do possível

Mas, esse preconceito é e deve ser punido. A Lei no. 7.716 de 05 de janeiro de 1989 em seu artigo 1o.com a redação determinada pela Lei no. 9.459 de 3 de março de 1997 diz que "serão punidos na forma desta lei os crimes resultantes  de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião  ou procedência  nacional". Portanto os delitos tipificados nesta lei englobam a conduta da segregação.

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Esforços voluntários. Investir é preciso

Diante do recrudescimento desse preconceito, e depois de esforços voluntários para apontar as discriminações absurdas, me surgiu a ideia de uma campanha contra o preconceito aos nordestinos que tem sua especificidade. Fizemos algumas ações, mas sempre de forma voluntária, sem nenhum recurso financeiro. Mas, pensamos que esse trabalho tem que ser  entendido como investimento em direitos humanos Temos apoio de algumas entidades da qual faço parte e outras com as quais já fiz contatos. E demostraram que a causa é muita justa.  Meu objetivo é conseguir recursos para  uma campanha que possa ter repercussão e que nosso esforço, antes voluntário, possa ter mais resultados e não ficar apenas nos escaninhos de alguns segmentos que pudemos alcançar. E que receberam muito bem a nossa mensagem. Mas, a campanha e as publicações têm que ter envergadura e caminhar para resultados. Tem que contratar profissionais e  artistas populares que possam levar adiante os objetivos propostos e que precisam ser remunerados. 

Nesse sentido , recorro à vakinha  eletrônica, por meio do Kickante que tem acolhido e dado grande apoio a projetos importantes . O recurso ao Kickante é para que possamos desenvolver com mais propriedade nosso trabalho que já vem sendo pensado há muito tempo. E ao qual já dedicamos muitos esforços e horas dispendidas. Claro, sempre com satisfação de dar um recado contra os preconceituosos e pessoas  que  podem se achar superiores a outros conterrâneos mas que, na verdade, expressam, apenas,  pobreza de espírito, ignorância, falta de compreensão e de humanidade.

Então em nosso projeto pretendemos desenvolver algumas ações, tais como:

1-Elaboração de material educativo de combate ao preconceito contra o povo nordestino.
2-Desenvolver estudos e pesquisas em parcerias com universidades e instituições  por meio de entidades de direitos humanos ,das quais faço parte como diretora.
3-Divulgar a campanha nos órgãos de comunicação e redes sociais , bem como a realização de cursos sobre  Direitos Humanos e História da região.
4-Produção de material áudio e áudio visual com o tema a ser exibido em diversos espaços a exemplo de tv, rádios comunitárias e comerciais, imprensa em geral, imprensa alternativa e sindical. 
5-Criação de cartilha , cordéis e outras expressões inclusive literárias .Estimular artistas populares a trabalharem o tema em suas varias expressões : vídeo, cordel, artes plásticas entre outras.
6- Realização de palestras em escolas, universidades e outros espaços educativos sobre o tema.
7-Abertura de canal de denúncias  ou utilização dos já existentes  em defesa dos direitos humanos, que envolvam o tema nordestinos e combate aos preconceitos contra esse povo.
8-Estimulo a projetos de leis de parlamentares no sentido educativo para o combate aos preconceitos contra os nordestinos.
9-Criação de centro de memória para esses e outros materiais que possam ser disponibilizados ao grande público. Bem como de literatura e história  de produção regional. 
10-Criação de grupo de trabalho com entidades de interesse no tema para desenvolvimento permanente dos objetivos aqui citados.
11- Continuidade da revista "Acumaé Força Nordestina" em novo formato. 

Projeto de Vilma Amaro
jornalista e historiadora
Prêmio Editora Abril
Homenagens das Câmaras Municipais de São Bernardo do Campo e Diadema ,no ABC paulista, por suas ações em defesa da democracia. 

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