Publicação do livro Notas sobre a fome

"A escrita tem sido um exercício de cura para muitas mulheres negras, sobretudo as mulheres de camadas populares". Essa sabedoria, disparada pelo olho e caneta aguçados de Jenyffer Nascimento, no prefácio de meu primeiro livro Do Verbo Que o Amor Não Presta, é uma verdade tão funda que me toca ainda agora todos os nós do corpo - único livro capaz de guardar efetivamente as travessias da existência.

Foi esse o meu encontro selvagem com a teoria, com a leitura e, finalmente, com a escrita.

A vida é o maior livro de todos e, por ele, irrompi pelas páginas de batalhas reais e imaginárias, tomando terras, despojando medos, erguendo cantos e barracos e amando a vida com mais força que o grito da fome que agiganta a boca na barriga ou na alma.

Compartilhar as trilhas tortas e as feitiçarias do caminho através da palavra é parte de minha reconfiguração no tempo e no espaço. 

Nada demais, nada especial, posto que sou eu mesma o retrato de tantas iguais a mim, em cor, passado, origem e classe.

A fome que berra pela boca do Mapinguari é o que me move a seguir escrevendo e é por isso que agora lanço essa mensagem, nas redes e raias tecnológicas, pedindo a benção de Tot e a colaboração daquelas e daqueles que sentem fome de palavra faminta.