Vaquinha on line da Mônica

Amigxs, parentes e aderentes. Esta não é bem uma campanha, mas sim uma "Vaquinha on line". No ano passado, por conta do trabalho de pesquisa sobre "Gastronomia e Patrimônio Cultural", que venho realizando desde 2010, propus a realização de uma Sessão Temática para a organização da Troisième Conférence Internationale d'Histoire et des Cultures de l'Alimentation / Third International Conference on Food History and Culture, elaborada sob a orientação do Prfº Amir Geiger (PPGMS/UNIRIO) e em parceria com a colega de mestrado Denise Diniz (INJC/UFRJ) e a Profª Myriam Melchior (INJC/UFRJ). Essa Sessão intitulada "Patrimoines et patrimonialisation de l’alimentaire", foi aceita pela organização da conferência, asim como a minha proposta de trabalho a ser apresentado nessa ocasião, "Nourriture, memoire et performance: questions sur le patrimoine", que em bom português significa "Comida, Memória e Performance: inquietações patrimoniais".

Esse trabalho, em resumo, é resultado de um exercício de reflexão sobre alguns conceitos e abordagens teóricas apresentados e debatidos ao longo das aulas da disciplina de “Memória Social e Patrimônio Cultural”, do curso de Mestrado do PPGMS/UNIRIO, tendo como base pesquisas que realizei entre 2010 e 2016, em duas comunidades tradicionais de Pernambuco: a comunidade rural de Palmeira, em Glória do Goitá, na Zona da Mata; e a comunidade quilombola da Chã-dos-Negros,em Passira, no Agreste Setentrional. Ela busca apresentar algumas reflexões relacionadas às possibilidades do uso dos Estudos da Performance na produção do conhecimento sobre os saberes e as práticas culinárias de matriz africana, e sua articulação com a memória gustativa. Busca, igualmente, analisar em que medida o uso dos Estudos da Performance, na perspectiva do Patrimônio Cultural Imaterial, pode contribuir para a formatação de políticas de salvaguarda do patrimônio gastronômico. Pretendo, ainda, levantar algumas “inquietações” que possam ajudar a compreender as implicâncias que têm, hoje, as disposições estabelecidas pela “Convenção para Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial”, de 2003, da UNESCO, na salvaguarda dos “bens imateriais ou intangíveis”, sobretudo, daqueles ligadas à comida e ao comer, para as comunidades de prática.

A Conference será realizada nos dias 1 e 2 de junho próximo, na cidade francesa de Tours, na Universidade François Rabelais. Eu não tenho como custear as despesas para minha ida para a Conference. No entanto, penso ser importante minha participação, não apenas por uma questão curricular. É também uma oportunidade de levar para um fórum internacional da importância deste, o debate sobre a questão do patrimônio cultural "i-material" e seus processos de legitimazação, desde a perspectiva da cozinha enquanto um "lugar de memória" da opressão, mas sobretudo da resistência, das muitas anônimas mestras-cozinheiras do cotidiano (não as cozinheiras dos "buffets", mas também não as da "cozinha dos Orixás"), na sua grande maioria negras e de baixa-renda, ressaltando a importância de suas "memórias marginais", não-oficiais, no caso aqui, não vindas da casa-grande ou do sobrado, mas da senzala, do mocambo e do quilombo,  contribuindo, assim, para uma nova mirada no patrimônio gastronômico: a mirada “que vem de baixo”, e que pode fazer do lugar da opressão, um lugar de empoderamento e autonomia para muitas mulheres brasileiras. E é por acreditar na importância desse debate atravessar fronteiras - territoriais, culturais, linguísticas, acadêmicas, políticas, etc - que estou hoje aqui pagando esse mico de fazer uma vanquinha on line.

Axé e Abreijos para todas e todos.